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sábado, 11 de junho de 2011

1. A Nova Ameaça


O tempo estava nublado e havia uma névoa sobre a cidade. Mas, pela primeira vez, aquilo não preocupava o garoto de longos cabelos negros que observava tudo da tranquilidade de seu apartamento, bebericando uma xícara de chá. O transito passava caótico na rua abaixo, junto com os milhares de transeuntes que seguiam suas vidas, despreocupados.
Havia quase um ano desde que Lord Voldemort fora derrubado. As coisas no mundo bruxo começavam a se normalizar. O Profeta Diário, agora, ao invés de listas com nomes de nascidos trouxas, trazia uma relação completa de Comensais da Morte ainda foragidos. Anúncios de prisões eram feitas à todo momento e as coisas não poderiam estar melhores para Shakcleboat, que tinha uma excelente popularidade entre os bruxos. Tudo estava na mais tranquila paz.
Depois que terminara os estudos em Hogwarts, decidirá seguir sua vida. Tinha um ótimo emprego na recém criada Agência de Segurança Bruxa, que ficava responsável por procurar e punir pequenos delitos. Mudara-se para Manchester numa tentativa de ficar longe de lembranças dolorosas. Não tinha noticias de seus amigos desde que os vira pela ultima vez em St. Mungus. Sem cartas, visitas. A única coisa que conservava dos tempos de escola era sua coruja de plumagem negra que, no momento, estava empoleirada em sua gaiola, com a cabeça embaixo da asa.
Com um ultimo suspiro demorado, Pedro Ravenclaw, o garoto, de longos cabelos negros e olhos da cor do chocolate, afastou-se da janela. Caminhou até a cozinha, que era separada da sala por um balcão, até a pia. Abriu o registro e deixou a que a água caísse até encher completamente a xícara. Pousou-a no fundo da pia e afastou-se rumo à seu quarto.
Antes mesmo de chegar à porta, sentiu como se algo lhe esmagasse. Teve que segurar-se com força no vão da porta para que não cedesse e caísse de joelhos. Uma enorme pressão energética parecia querer jogá-lo para baixo. Com o olhar atônico, olhou ao redor, como se procurasse algo. Trincou os dentes e segurou-se com mais força na parede.
—Droga...está longe...e ainda assim a energia quase me sufoca! —Murmurou com os dentes ainda trincados. Sem perder tempo, correu para dentro de seu quarto e, agarrando um embrulho comprido, sumiu no ar com um estalo.




O ritmo frenético do local já começava a aborrecer Amanda. Definitivamente a Biblioteca Central do Ministério da Magia não era o lugar adequado para quem estava estudando para o exame de Inominável. O constante barulho de passos e o “tac-tac” de saltos no assoalho de madeira constantemente tiravam a concentração da bruxa.
Pouco havia mudado desde os tempos de escola. Os mesmos cabelos negros, os olhos azuis que pareciam ser reflexo do céu. Talvez o que mudasse nela fosse aquele sobretudo negro com a insígnia dos Aurores. Sim, Amanda Gryffindor havia sido aprovada com louvor no teste para Auror e agora empenhava-se em mais aquela conquista.
Talvez o que realmente tinha mudado nela era seu olhar constantemente distante e melancólico. Quando alguém perguntava o que havia acontecido, ela desconversava e inventava alguma revisão de ultima hora sobre um assunto que ela já havia estudado milhões de vezes e, provavelmente, não iria precisar estudar novamente. Os mais íntimos sabiam que sua tristeza estava relacionada à um certo ruivo de olhos azuis e rosto sardento. Mas evitavam tocar nesse assunto diante dela.
O som de risadas descendo as escadas foi a gota d’água. Com um movimento rápido, fechou o livro com violência, fazendo a pancada seca espalhar-se por entre as estantes. O “shhhh” vindo de uma das mesas obrigou Amanda a respirar fundo e contar até dez para manter a calma. Puxou a varinha do bolso e começou a conjurar um feitiço cabeça-de-bolha para isolar-se daquela balburdia.
—Sorte deles que eu estou calma. —Murmurou com um tom irritadiço, achando estranha a forma como sua voz saia abafada, como se ela estivesse com os ouvidos entupidos.
Quando suas mãos tocaram o livro para abri-lo novamente, uma pressão energética fora de qualquer precedente forçou seu corpo para baixo. Se não estivesse sentada, com certeza teria caído no chão. Os olhos arregalados, agarrou-se com força à borda da mesa, sentindo as unhas cravarem na madeira velha e fofa. Quando, então, seu corpo acostumou-se àquela pressão, levantou-se de um pulo, derrubando a cadeira no chão, fazendo um enorme barulho. Não ouviu os “shhhhh’s” irritados, abafados pelo feitiço cabeça-de-bolha. Sem importar-se com os olhares irritados, saiu em disparada para o lado de fora da biblioteca. Quando viu-se novamente na rua dos trouxas, saindo daquela velha estação de metrô abandonada, com a placa de “Mantenha Distância” sempre posta na frente, Amanda segurou com força as bordas do sobretudo e sumiu no ar com um estalo, ignorando o pequeno garoto trouxa que lambia um pirulito e parou uma lambida na metade ao ver a garota desaparecer.




—Eu não vou, não adianta. —Dizia uma irritada garota de cabelos negros e repicados, com uma franja caindo sobre seus olhos, as pontas pintadas de vermelho. Seus olhos cinzentos seguiam fixos na loira à sua frente, que bebericava calmamente seu chá.
—Por que não? —Perguntava Ashley, a loira que bebia o chá. Seus olhos perfeitamente azuis fitavam Lilá com um interesse vago.
—Odeio festas com frufrus, etiqueta e toda aquela desculpa que os figurões usam para disfarçar a própria boiolagem. —Disse Lilá, revirando os olhos com impaciência.
—Aaah, Lilá. —Disse Ashley, fazendo biquinho, os olhos ficando maiores e com um tom dramático. —Por favor. Mamãe adoraria que você fosse. É importante que minha convidada esteja presente.
—Então esse é o ônus por passar o verão com os Delacour? —Perguntou Lilá, estreitando o olhar. Ashley balançou a cabeça positivamente, com uma expressão, inegavelmente, fofa. —Tá, tá! Para de me olhar como um cachorrinho carente! Eu vou sim! Mas nada de vestidos frescos!
—E o que você considera um vestido fresco? —Perguntou Ashley, tentando manter a pose, mas com um sorrisinho de triunfo no canto dos lábios.
—Nada com muita rendinha, nem nada cor de ros-...
Mas a frase perdeu-se na metade. A forte pressão energética caiu sobre elas como uma tempestade de areia. A mão de Ashley vacilou e deixou cair a xícara, espalhando seu conteúdo pelo chão. Lilá agarrou-se com força nos braços da cadeira, sentindo como se fosse ser empurrada para dentro dela por aquela enorme energia.
—Mas o que diabos é isso?! —Perguntou Ashley, os olhos arregalados.
—É uma energia fora do comum! —Disse Lilá, fazendo força para levantar. —E está longe!
—Mon Dieu! —Exclamou Ashley, imitando a amiga, apesar da forte pressão fazer seus joelhos dobrarem. —De quem será essa energia?
—Eu não sei. —Murmurou Lilá, rangendo os dentes. Lançou um ultimo olhar para Ashley, que pareceu entender. Então, com um único giro no ar, as duas sumiram com um forte estalo.
—Mademoiselles, querem mais alguma coi-...
O mordomo parou de chofre com sua bandejinha de prata ao ver que as jovens já não se encontravam no local.





O vento corria pelo local, calmamente. Sacodia e acariciava gentilmente a copa das árvores e o gramado, fazendo suas folhas balançarem alegremente como se tudo fizesse parte de um imenso balé. Pássaros cantavam alegremente, indo de galho em galho. Borboletas pousavam aqui e ali para recolher o néctar de alguma flor. Vez ou outra algum animal selvagem passava correndo rumo à sua toca.
Por detrás de seus inseparáveis óculos escuros, William observava tudo. O sobretudo aberto, mostrando o peitoral desenvolvido, os cabelos curtos, castanhos. O semblante calmo que escondia a angustia dele e de milhares de almas. Vez ou outra sua testa franzia, como se sentisse dor de cabeça, mas logo voltava à expressão serena de antes.
William havia se refugiado com o pai numa das propriedades da família logo após o fim da guerra. Era um lugar pacifico, isolado de tudo. A imponente construção, apesar da grandiosidade, tinha traços delicados que combinavam bem com o local. Grandes janelas, varias chaminés, cores claras. Tudo contribuía para manter ali o clima de relativa calma.
E talvez fosse disso que William precisava nos últimos tempos. Calma. E nada mais do que calma. As atribulações dos últimos meses não deixara espaço para muito descanso. Mas agora tudo estava em relativa paz. Voldemort destruído, os Comensais sendo caçados, presos e julgados. Ele talvez, então, pudesse ter a sua tão querida paz.
Então, franziu a testa novamente, mas não como se sentisse dor. Era como se pressentisse alguma coisa. Ouviu um assobio e virou-se a tempo de segurar com a mão uma lasca de madeira. Sentiu uma dor aguda e abriu a mão. A lasca havia cravado em sua palma. Uma linha de sangue escorreu até o dorso e de lá pingou para o chão.
—Quem está aí?! —Gritou William, virando o olhar na direção das árvores, a mão esquerda segurando a direita que ainda sangrava.
Silêncio. Mas um silêncio diferente. Os pássaros que antes faziam balburdia agora estavam calados. Até mesmo o vento parecia ter parado. Então, como se a gravidade tivesse aumentado, uma pressão fez os joelhos de William dobrarem. A energia era fora do comum e se aproximava lentamente. O olhar fixo na floresta, o garoto sentia os batimentos cardíacos acelerarem à medida que aquela energia se aproximava dele.
Então, por entre as árvores, apareceu. Primeiro apenas sua silhueta confusa devido as sombras lançadas pelas copas das árvores. Depois, sua forma. Era um garoto. Não devia ter mais do que seus 15 anos. Seu rosto e suas formas eram delicadas, quase femininas e sorria abertamente, como se estivesse feliz. Seus cabelos ruivos flutuavam no ar suavemente. As mãos estavam atrás das costas e andava quase saltitando em sua direção. William arregalou os olhos. Não pela forma tão peculiar, mas pela energia que circulava ao seu redor. Era quente, arisca e densa. Parecia que queria esmagá-lo.
—Me chamou? —Perguntou com uma voz doce, meneando a cabeça para o lado, sem desfazer o sorriso. Seus grandes olhos purpura fitavam William com curiosidade.
—Quem é você? —Perguntou William, abaixando a voz. A mão esquerda apertava a direita, tentando expulsar a lasca de madeira presa em sua mão.
—Eu? Ah, perdão pela falta de educação. —E alargou seu sorriso, ainda mais doce do que antes. — Eu sou Alisson, 7º Seishin sob comando do general Vincent Graham.
—Sétimo...Seishin? —Perguntou William, franzindo a testa, como se não entendesse. —O que é você afinal?
—Acho que não adianta falar, não é? —Perguntou com um ar ainda inocente, sorrindo com os olhos fechados. Então, abriu lentamente os olhos, deixando-os em pequenas fendas, seu ar inocente tornando-se repentinamente maldoso. —Acho que é melhor eu demonstrar.
E sumiu no ar. Antes que William pudesse sentir-se surpreso, sentiu algo bater com força na boca de seu estomago. Sentiu seu corpo erguer-se no ar. Alisson estava à sua frente, o joelho pressionado em sua barriga. Ainda sorria daquela forma maldosa.
—Chute da lua crescente!
E completou o chute. Uma forte energia impeliu William para cima, parecendo querer quebra-lo ao meio. Com dificuldade, esticou a mão para o lado. Reuniu uma grande quantidade de ar na palma, que logo explodiu, lançando-o para o lado. O raio de cor purpura continuou seu caminho, sumindo no céu. William despencou no ar, mas reuniu energia o suficiente para formar um colchão de ar, que amorteceu a queda.
—Oh, impressionante. —Disse Alisson, enquanto William apoiava-se para levantar-se mais uma vez. —Me disseram que isso podia acontecer.
William nada falou. Apenas endireitou-se, passando a mão pelo rosto. Ergueu a mão e abriu-a. O ar ao redor explodiu como uma pequena bomba. A lasca de madeira na palma foi jogada longe. Abaixou a mão e deixou os braços paralelos ao corpo, encarando o adversário que parecia bem descontraído.
—Bem, não me importa mais quem você é. — Murmurou com um tom de voz grave. Esticou a mão para o lado, onde o ar começou a circular cada vez mais rápido. —Claramente não é um amigo.
—Ah, ao menos isso você entendeu. —Disse Alisson, olhando com vaga curiosidade para o ar que já formava quase um mini tornado nas mãos de William.
—Já que isso está bem claro... —Fechou um pouco a mão, como se segurasse o ar, que começou a girar de uma maneira arisca em sua mão. —Arco Ravenclaw!
E o ar em sua mão repentinamente explodiu. Como que materializado dessa explosão, um imponente arco de mogno, com detalhes em bronze, corda fina, quase invisível e a insígnia de Ravenclaw gravada na madeira como por fogo, apareceu em sua mão. Uma aljava apareceu em seu ombro, com flechas de penas negras.
—Ah, que bonitinho. Ele tem um arco! —Debochou Alisson, batendo palmas.
William abaixou as sobrancelhas perigosamente. Ergueu o arco e puxou uma flecha, encaixando-a corretamente. Mirou diretamente o peito do adversário, antes de puxar a corda. Quando soltou, produziu um som semelhante ao de uma explosão. Um risco azul cortou o lado do rosto de Alisson, continuando o caminho na direção da floresta, onde perfurou 3 árvores antes de parar cravada em um grande carvalho. O adversário parou uma risada na metade. Um risco vermelho agora manchava sua pele alva e delicada.
—Foi só um tiro de aviso. — Anunciou William, puxando outra flecha e encaixando no arco mais uma vez. —Acho melhor começar a lutar a sério ou desaparecer da minha frente. Ou o próximo não vai errar.
—Então você quer que eu lute à sério? —Perguntou Alisson e não havia mais nada de fofo em sua voz. —Tudo bem, eu irei lutar a sério.
E novamente sumiu no ar. Atento, William franziu a testa e posicionou-se. Virou rapidamente para o lado e disparou mais uma flecha. Alisson saltou para trás e pousou agachado, arrastando-se um pouco para trás. Apoiou um pé com força no chão e chutou o ar. O mesmo risco purpura em forma de lua crescente partiu em direção à William. O aeromago dobrou os joelhos e saltou. A foice de energia partiu em direção das árvores, partindo 3 antes de dissipar-se no ar.
—Eu estou aqui agora! —Anunciou Alisson, saltando ao lado de William. Chutou de cima para baixo, mirando o queixo de William, que posicionou o arco na frente. Mesmo assim, a força foi o suficiente para jogá-lo mais para cima. Posicionando os pés como se apoiasse em algo sólido, mirando uma nova joelhada no rosto de William.
—Não dessa vez! —Gritou William, puxando outra flecha e posicionando no arco. Sem muito parar para mirar, esticou a corda e disparou a flecha.
Alisson sorriu presunçoso. Mesmo em alta velocidade, girou graciosamente no ar, desviando-se da flecha, que atingiu o chão. Sem tirar o sorriso do rosto, o garoto segurou a nuca de William e acertou a joelhada no rosto do aeromago, antes de sumir no ar.
O corpo de William permaneceu um tempo dobrado no ar, o sangue escorrendo de seu nariz e sua boca. Então, iniciou uma queda. Seu corpo bateu no chão com força, levantando uma pequena nuvem de poeira.
—Aah, que pena. Pensei que iria durar mais. —Alisson pousou no chão como um gato, começando a andar na direção de onde William havia caído. —Bem, uma pena.
Com um simples movimento da mão, o rapaz fez toda a poeira ao redor de William dispersar. O aeromago estava caído no chão, o rosto comprimido contra a terra. Parou diante dele, o sorriso doce e inocente de volta à seus lábios. Esticou a mão em sua direção e segurou-o pelos cabelos, forçando o garoto a olhar-lo.
—Uma pena. Seria tão bom continuar essa luta. —Lamentou Alisson, fazendo biquinho, como uma criança contrariada. —Mas tudo bem...vamos terminar isso agora.
E ergueu a mão aberta, os dedos bem juntos como uma espada. Uma aura purpura surgiu ao seu redor. Então, desceu velozmente contra o pescoço do aeromago.
—Ainda não!
Alisson ergueu o olhar e saltou para trás a tempo de desviar de uma rajada de ar congelado que passou por ali. Sentiu um peso anormal no braço e ergueu-o. Estava congelado. Contraiu a mão com força e o gelo quebrou-se. Rangeu os dentes e correu o olhar até onde aquela nova aura estava surgindo.
—Amanda? —Perguntou William, erguendo um pouco o olhar para poder ver quem chegara. A garota caminhava a passos lentos, soltando, um à um, os botões do sobretudo. Carregava em uma das mãos uma espada de lâmina vermelha e cabo dourado.
—Sim. Como sempre, na hora certa. —Brincou a garota, apesar de manter o olhar sério, fixo em Alisson. Esticou a mão para o lado e ajudou o amigo a levantar-se. —Você está bem?
—Na medida do possível. —Murmurou William, limpando o sangue que escorria de seu nariz e seus lábios com as costas das mãos. —Por que veio aqui?
—Senti a energia dela chegando. —Murmurou Amanda, estreitando o olhar.
—DELA?! —Berrou Alisson, arregalando os olhos. —Idiota! Não consegue ver que eu sou um homem?!
—Homem? —Amanda engasgou-se e quase tropeçou nas próprias pernas, logo olhando para ele com um ar cômico. —Sério que você é um...homem?
—Mas é claro que eu sou! —Alisson cruzou os braços sobre o peito, com cara emburrada. —E você? Quem é?
—Meu nome é Amanda Gryffindor. —Ergueu a espada e, como uma lança, apontou diretamente para o garoto, que assumiu mais uma vez aquele ar mais maligno. —E você?
—Bem...já sei o nome que colocar em seu tumulo. —Riu Alisson, jogando graciosamente os cabelos para trás. —Eu sou Alisson, 7º Seishin sob comando do general Vincent Graham.
—Hm...pelo jeito mais um que gosta de falar muito... —Murmurou Amanda, estreitando o olhar. Arrastou o pé para trás e segurou a espada com as duas mãos, ainda em forma de lança, um pouco atrás da cabeça.
Ainda com o sorriso indolente e maldoso, Alisson seguiu olhando para Amanda. O ar circulava ao redor da garota, fazendo seus cabelos balançarem de leve. Pequenos cristais de gelo começaram a se formar no ar, girando ao seu redor. Olhou para baixo e viu que a grama aos pés da garota já havia se congelado.
—AH! —Gritou Amanda, golpeando o ar à sua frente com a espada.
Alisson saltou para o lado, desviando da rajada de gelo. Seu sorriso sumiu quando viu, pela visão periférica, Amanda ao seu lado. Conseguiu colocar os braços à frente do corpo à tempo de defender um golpe da espada, ainda assim sendo atirado para trás. Caiu no chão e deu uma cambalhota, parando em pé mais uma vez.
—Engenhoso. —Murmurou, com um ar mais sério.
Amanda ajeitou a posição. Um rastro de gelo mostrava a trajetória do ataque. Havia congelado a grama à seus pés para deslizar mais rapidamente em direção à ele. Alisson massageou os braços, ainda olhando para sua adversária. E então, sumiu no ar.
—Amanda, cuidado! —Gritou William.
A garota arregalou os olhos e virou-se a tempo de defender um chute com a espada. Girou no ar e desviou de um soco em seu estomago. Quando já imaginava ter escapado da investida, sentiu uma claridade ao seu lado. Sem ter tempo de desviar, uma rajada de energia purpura acertou seu ombro, fazendo seu corpo rodar no ar antes de cair pesadamente no chão. Apoiou as mãos no chão e levantou-se com o corpo trêmulo, segurando a espada com força.
—Ora, ora. Não parece mais tão confiante como antes. —O sorriso presunçoso voltou aos lábios de Alisson enquanto ele andava na direção dela.
—Droga...seu maldito, acha que só isso pode me derrotar? —Murmurou, levantando-se. Limpou a poeira da roupa e então soltou o ultimo botão do sobretudo. A peça de roupa voou no ar e, quando caiu, fez um barulho maior do que o normal.
—Hm. Pesos? — Perguntou Alisson, vagamente surpreso.
—Sim... e agora... —Amanda estalou os ombros e o pescoço, antes de posicionar-se mais uma vez. Usava por baixo uma roupa leve, porém colada ao corpo para não prejudicar seus movimentos. A camisa era vermelha com o emblema de uma fênix em seu peito. Posicionou a espada mais uma vez, o olhar estreito na direção de Alisson. —podemos lutar à sério.
Despreocupado, Alisson cruzou os braços sobre o peito. Amanda estreitou ainda mais o olhar e apertou com força o cabo da espada. Dobrou os joelhos e tomou impulso, correndo na direção do adversário, que não moveu-se. Faltando dois metros para se encontrarem, saltou para o lado. O chão ao seus pés congelou, formando uma trilha de gelo. Deslizou com maestria e velocidade na direção do oponente, que apenas sorria.
—Morra. Disparo Infernal. —Murmurou com um ar tranquilo. Ergueu um dedo em direção à Amanda e uma pequena bola de energia roxa concentrou-se na ponta.
—Amanda, desvie!! —Gritou William, o suor em sua testa parecendo prever o perigo.
Amanda franziu a testa, mas não teve tempo de pensar. Com o som de uma arma de fogo disparando, o golpe partiu em sua direção. Ergueu a espada e colocou-a à frente. O som do metal trincando, a dor aguda em seu ombro e o violento empurrão que jogou seu corpo para trás denunciaram que não tivera nenhum sucesso.
Seu corpo caiu com força no chão. Sua mão afrouxou e largou a espada. Sentiu a camisa molhar-se com seu sangue, enquanto Alisson aproximava-se lentamente. Apoiou o pé em sua testa, pressionando-a com força em direção ao chão.
—Foi divertido. —Murmurou, retornando ao ar infantil de antes. Apontou novamente o dedo em sua direção, o Disparo Infernal novamente formando-se na ponta. —Mas cansei de brincar.
—AMANDA, FECHE OS OLHOS! —Gritou William.
—Hm? —Alisson ergueu o olhar curioso. William estava à poucos metros deles. Uma das mãos segurava a lateral dos óculos escuros.
—Está na hora de acabar com isso. — E retirou seus óculos com um único movimento da mão. Seus olhos estavam fechados. Quando os abriu, uma forte ventania pareceu sair deles. —OLHOS DA ÁGUIA!!
—O q...! —Alisson arregalou os olhos e pôs os braços em frente ao corpo, para proteger-se da violência do vento.
William permanecia de pé, a força do vento soprando seus cabelos para trás. Sua cabeça girava com os mais diversos sentimentos. Podia sentir a alma de pequenos animais sendo abandonadas de seu corpo e sua dor parecia gritar dentro de seu crânio. Então, quando sentia que ia desmaiar, voltou a pôr os óculos, caindo de joelhos no chão.
—Ao menos acabou... —Murmurou a voz cansada. Respirava em arquejos e parecia não ser capaz de levantar.
Alisson seguiu parado, na mesma posição. Seu corpo parecia fumaçar e estava coberto de poeira e terra. Os braços ainda estavam cruzados, em frente ao rosto, na tentativa de deter o ataque. Parecia morto. Sem um único movimento. Então, começou a rir. De início baixo e contido. Mas logo tornou-se uma gargalhada que sacodiu seu corpo por completo.
—Essa foi sua ultima opção? —Murmurou com a voz carregada de veneno. Afastou os braços lentamente, deixando-se entrever seus olhos purpura, carregados de maldade. —Uma pena...não foi muito boa.
“Não pode ser!” pensou William, atônito “não há maneiras de se sobreviver aos Olhos da Águia. A alma dele deveria ter sido jogada para longe!”
—Tem mais alguma carta na manga? Ou vai desistir? —Alisson abaixou as mãos, deixando-as paralelas ao corpo. Em seus punhos se acumulava aquela aura roxa, que agitava-se de uma forma agressiva. —Bem...não importa.
Sumiu no ar mais uma vez. William arregalou os olhos, mas, sem chance de reação, foi acertado em cheio no queixo. Seu corpo foi atirado para trás, quicando no chão três vezes e, antes de cair, foi acertado mais uma vez na boca do estomago. Ergueu-se dez metros no ar, sentindo o estomago revirar de dor. Alisson, porém, já estava ao seu lado. Juntou as mãos e, como se fosse um grande martelo, acertou as costas de William, atirando-o no chão. Bateu com força na terra, abrindo um buraco e erguendo outra nuvem de poeira.
—Não vou dar brecha para o azar mais uma vez. —Disse Alisson, caindo no chão com destreza. Olhou por cima do ombro para Amanda, que ainda estava deitada no chão, o ombro sangrando. Sorriu maldosamente e voltou a olhar para William, caído no chão, tentando levantar-se, mas sem forças.
Afastando um pouco as pernas, ergueu a mão em direção aos céus. Uma faísca surgiu acima dela e logo tornou-se uma pequena esfera densa. Como uma chama, lentamente, foi crescendo até tornar-se do tamanho de uma bola de futebol, planando à poucos centímetros de sua mão. Então, lentamente, abaixou o braço, apontando o golpe na direção de William. O aeromago observava tudo, a coloração roxa iluminando seu rosto e refletindo em seus óculos escuros. Com um sorriso maldoso, Alisson murmurou ‘adeus’, antes de gritar.
—EXPLOSÃO DIVINA!
A grande rajada de energia saiu destruindo tudo em seu caminho. Mesmo há mais de um metro do chão, abria uma enorme vala por onde passava. William fechou os olhos e apertou com força a terra em suas mãos. Seria o seu fim. Abaixou a cabeça e esperou o golpe final.
Sentiu um calor fora do comum. Pensou que essa fosse a sensação de estar morrendo. Mas então notou que algo lhe queimava. Abriu os olhos e viu-se diante de um enorme pilar de fogo que dividia a Explosão Divina em duas. Diante do pilar, de costas para William, estava um rapaz de longos cabelos negros. A força dos golpes fazia seus cabelos chicotearem o ar atrás dele. Segurava uma espada de lâmina azulada em uma das mãos, apoiando sua ponta no chão. Apesar da aparência calma, William notava o quanto seu primo estava tenso.
Os dois golpes sumiram numa simples lufada do vento. William apoiou as mãos no chão o suficiente para erguer o corpo e observar melhor o rapaz à sua frente.
—Pedro...
—Que injusto Will...faz uma festinha e nem convida os parentes. —Murmurou Pedro, com um ar de brincadeira. Olhou por cima do ombro e fitou o primo, preocupado. —Você tá bem?
—Já estive em melhor forma. —Murmurou o aeromago, levantando-se lentamente. Suas roupas estavam rasgadas em alguns pontos, sujas de terra e sangue. Limpou a testa antes de olhar para Alisson. —Tome cuidado. Ele é poderoso de mais.
—É, eu já notei. —Murmurou Pedro, mas William notava no tom de voz que o primo não estava preocupado com isso. —Vá cuidar da Amanda. Eu cuido dessa coisinha.
—Coisinha?! Olha lá como você fala! Eu quase matei dois de seus amigos, exijo respeito!! —Berrou Alisson, sacodindo os braços freneticamente.
—Ah, como queira. —Resmungou Pedro, andando na direção dele. Girou a espada no ar e guardou-a na bainha.
—Não vai usar sua espada? —Perguntou Alisson, ligeiramente intrigado.
—Não vou precisar. —Murmurou Pedro, retirando o casaco e jogando-o de lado. Assim como o sobretudo de Amanda, fez mais barulho do que o esperado.
—Pesos? Vocês combinaram essa técnica de treino ou só gostam de ficar pelados durante as batalhas? —Perguntou Alisson, com um leve ar de sarcasmo em sua voz.
Pedro sorriu de lado, com um ar de sarcasmo. Parou dois metros antes de Alisson, os braços paralelos ao corpo. O ar circulava ao seu redor lentamente, em espiral. O oponente olhou em seus olhos e sorriu maldosamente, parecendo relaxado.
—Parece muito confiante, não? —Murmurou Pedro, flexionando os braços. Faíscas espocaram de seus pulsos até que estivessem em chamas. —Vou tirar esse sorrisinho de seu rosto.
E sumiu no ar. Alisson arregalou os olhos e pôs os braços cruzados sobre o rosto, no mesmo instante em que Pedro descia um soco contra seu rosto. Sem perder tempo, o piromago apoiou um pé no chão e girou, procurando acertar um chute na cabeça do inimigo. Alisson abaixou-se e aplicou uma rasteira em Pedro, que saltou e desceu com um novo soco na direção dele. O rapaz rolou para o lado, no mesmo instante em que Pedro acertava o chão, abrindo um pequeno buraco e levantando uma nuvem de poeira.
“Maldito...me pegou de surpresa. Mas isso não vai acontecer de nov-“
—Lute! —Gritou Pedro, saindo de dentro da nuvem de poeira, um soco já direcionado para o rosto de Alisson, que arregalou os olhos e juntou novamente a aura roxa em sua mão e jogou na direção dele.
A bola de energia atingiu o peito do piromago, que foi atirado para trás, batendo contra uma árvore. Com um gemido baixo, Pedro descolou da árvore e caiu no chão, de joelhos.
—Auch...essa doeu. —Murmurou o piromago, passando a mão no local atingido. A camisa estava queimada e a pele ligeiramente ferida pelo golpe.
—Você me surpreendeu, piromago. —Murmurou Alisson, passando a mão pelos braços. A pele estava ligeiramente chamuscada. —Que tipo de técnica você usa?
—Técnica? —Perguntou Pedro, com um ar confuso. —Eu só ataquei com todas as minhas forças.
—Típico dele. —Disse William, enquanto observava o primo, com um sorriso meio sem jeito, enquanto ajudava Amanda a sentar-se.
 —Estamos conversando de mais. —Pedro estalou as juntas dos braços e posicionou-se, abrindo um pouco as pernas, firmando bem os pés no chão. O ar começou a rodar com força ao seu redor, sacodindo seus cabelos para cima. Então, com a mesma velocidade que começou, o vento parou de girar.
Por um longo instante os dois se encararam. Então, sumiram do ar. Seus golpes se chocaram metros à frente, antes que sumissem mais uma vez. Rastros de fogo e riscos purpura era tudo o que denunciava mais um choque entre ambos. Com uma explosão devido ao choque dos ataques, foram atirados em direções opostas. Param derrapando, abrindo valas na terra. Mais uma vez se encararam, o olhar estreito um na direção do outro.
—VOLCANO! —Gritou Pedro, apontando as mãos abertas na direção de Alisson, lançando uma poderosa rajada de fogo na direção dele.
—EXPLOSÃO DIVINA!! —Rebateu Alisson, descendo as mãos na direção, lançando a mesma rajada purpura de antes.
Os dois golpes se encontraram no meio do caminho, erguendo uma grande nuvem de poeira. Mediram forças por um longo tempo, empurrando-se de um lado para o outro como num cabo de guerra, antes de sumirem no ar, com uma simples lufada do vento.
A nuvem dispersou lentamente. Pedro estava na mesma posição de antes, mas ofegava. Seu rosto estava suado e demonstrava cansaço. Alisson, porém, parecia tranquilo. Apesar da roupa suja e dos braços chamuscados, sorria de uma maneira despreocupada.
“Maldito...ele não tá nem suado!” Pensou Pedro, estreitando mais o olhar.
—É tudo o que tem? —Perguntou Alisson, jogando os cabelos para trás, tirando da frente dos olhos. —Aaah, uma pena. Mais uma decepção. Mas, tudo bem...apesar de tudo, vou dar a vocês a honra de ver o meu golpe mais forte.
E, sem tirar o sorriso do rosto, afastou as pernas e juntou uma mão a outra, como se segurasse uma espada. Pequenas faíscas purpura começaram a espocar de seus dedos. Lentamente uma aura da mesma cor começou a formar-se no lugar, girando em espiral, como se fosse uma fumaça.
—Lâmina Divina! Kami no buredo!
A aura brilhou intensamente antes de se condensar na forma de uma lâmina purpura. A força energética que ela exercia era tanta que a grama aos pés de Alisson começou a se desfazer. Com um ultimo sorriso, sumiu no ar e só foi reaparecer quando a lâmina já transpassava a barriga de Pedro, saindo nas costas.
—Gostou? —Perguntou com um ar irônico e, sem dar tempo de resposta, sumiu novamente.
Pedro cambaleou para o lado, mas logo sentiu um outro golpe abrindo um rasgo em sua camisa e um corte em seu braço. Levou a outra mão até o ferimento, sentindo o sangue acumular-se em seus dedos. Deu mais um passo para o lado, fazendo uma careta de dor. Sentiu seu corpo bater em então algo afiado encostando na pele de seu pescoço, liberando pequenas ondas de choque.
—Ah...então, o ultimo a chegar vai ser o primeiro a morrer. Que pena...foi tão divertido... —Murmurou Alisson em seu ouvido. Afastou um pouco a lâmina, como se pegasse distância para o golpe derradeiro. —Então. Adeus.
—Não tão rápido!
Pedro sentiu duas mãos agarrarem com força sua camisa e logo pressionado ao lado de um tubo muito apertado. Quando então sentiu-se mais uma vez no ar livre, estava no mesmo lugar. Porém, Alisson não estava atrás dele. E não havia lâmina encostada em seu pescoço. Tudo o que via era o rosto de uma velha conhecida.
—Lilá! —Exclamou com a voz rouca, antes de dobrar-se sobre o próprio corpo e tossir sangue.
—Ash, cuida desse aqui também! —Gritou Lilá, girando no próprio eixo e encarando Alisson, que parecia surpreso, parado no mesmo canto de antes.
—Ok! —Pedro virou um pouco a cabeça para olhar quem falara. Ashley estava de joelhos no chão. Encostava a mão no ombro de Amanda, que estava sentada. Uma tênue aura verde encobria o ombro de Amanda.
Lilá murmurou um “bom trabalho”, antes de voltar a olhar para frente. Lentamente Alisson abaixou a mão, enquanto a espada ia minguando até sumir.
—Não guarde sua arminha! —Gritou Lilá, em tom de deboche. —Pelo que ouvi, ela é seu golpe mais poderoso, não é? Ou seja, sua única chance de me derrotar.
—Gosta de falar de mais. Mas não preciso disso para te derrotar. —Respondeu Alisson, cruzando os braços sobre o peito. —Você não é páreo para mim!
—É o que veremos. —Murmurou Lilá, com um sorrisinho indolente no canto dos lábios. Levou as mãos até as costas e retirou dois leques de prata, segurando um em cada mão.

Um comentário:

  1. Me senti de volta às origens, Pê, com os elementais e tudo! *-*
    VÊ SE CONTINUA!
    Ash <3

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